sábado, 3 de julho de 2010

Saramago sobre che

A Portugal infeliz e amordaçado de Salazar e de Caetano, chegou um dia o retrato clandestino de Ernesto Guevara. Esse retrato chegou e nos comoveu a todos... Existia una esquerda ativa, séria e trabalhadora que o viu como uma referência... E também havia, por cima, ou por baixo, como se queira entender, uma esquerda que podemos chamar de intelectual que às vezes com boa fé convertia Che numa espécie de ícone. Isso ocorreu muito menos entre gente da classe operária, que desde então chamávamos de esquerda afetiva, que no fundo seguiram Che e a Revolução Cubana como se fossem modas.
.
"Não quer dizer que não havia aí inclusive alguma ou muita sinceridade, porém também havia um pouco de oportunismo. Quando o tempo passou e Che tinha morrido, e as coisas se normalizaram de alguma forma, a esquerda deixou de parecer a muita gente essa espécie de aurora, de algo que iluminava todo o espaço.

Era a vida que tinha mudado. Eles mesmos se viram mudados e sem demasiadas idéias progressistas. E, portanto, o retrato de Che Guevara deixou de representar para eles o que representava antes. Cansaram-se e no lugar de Che, puseram outra coisa.
cont.
Se pudesse falar com eles, estou seguro de que não teriam nenhuma dúvida em reconhecer que se houve uma pessoa nos tempos recentes que deu ao mundo um exemplo de dignidade, um ideal realmente supremo, esse foi Che. E o MELHOR DE TUDO é que a gente também se encontra continuamente com MENINOS E MENINAS QUE SABEM TUDO o que há que saber sobre a vida e sobre as ações de Che Guevara, e que VESTEM SUA CAMISETA, MAS DE CORAÇÃO.

Nenhum comentário:

Postar um comentário