
- Da Índia, Che escreve para a Mãe.
"Querida Vieja: Meu velho sonho de visitar todos esses países agora ocorre de um modo que inibe toda a minha felicidade. Falar de problemas políticos e econômicos, dar festas onde a única coisa que falta é que eu vista um smoking, e pôr de lado meus mais puros prazeres, que seriam ir e ficar sonhando à sombra de uma pirâmide ou sobre o sarcófago de Tutancâmon. Ainda por cima estou sem Aleida, que não pude trazer por causa de um desses complexos mentais que tenho. O Egito foi um êxito diplomático de primeira ordem. As Embaixadas de países do mundo todos vieram à despedida que demos, e vi de perto como a diplomacia pode ser complicada quando o núncio apostólico apertou a mão do adido russo com um sorriso realmente beatífico. Agora a Índia, onde novas complicações protocolares produzem em mim o mesmo pânico infantil(para resolver como responder às saudações).
Agora que realmente se desenvolveu dentro de mim é uma noção do conjunto em contraposição ao pessoal. Continuo sendo o mesmo solitário que costumava ser, procurando minha trilha sem ajuda pessoal, mas agora possuo uma percepção do meu dever histórico. Não tenho nenhum lar, nenhuma mulher, nenhum filho, nem pais, nem irmãos, nem irmãs; meus amigos são meus amigos apenas enquanto pensarem politicamente como eu. E, no entanto, estou contente. Sinto algo na vida, não apenas uma poderosa força interior, que sempre senti, mas também o poder de instilar em outros, e um sentimento absolutamente fatalista de minha missão, que me despe de qualquer medo.
Não sei por que estou lhe escrevendo isso, talvez sejam apenas saudades de Aleida. Tome-a como é. Uma carta escrita numa noite de tempestade nos céus da índia, longe da minha pátria e dos meus entes queridos. Um abraço grande para todos, Ernesto".